Arcade Fire - Neon Bible

24/02/07



Aqui fica uma revisão ao novissímo album dos Arcade Fire por parte de Luis Guerra, jornalista da revista musical Blitz.


"É a penúltima música do segundo álbum dos canadianos Arcade Fire e os convertidos já a conhecem de outros carnavais:
The Arcade Fire Neon Bible Universal antes de Funeral e da «aparição» dos novos messias do rock que mexe os cordelinhos da emoção, «No Cars Go» residia, de forma discreta, no EP homónimo que o grupo de Montreal lançou, a expensas próprias, em 2002.É uma forma provavelmente maniqueísta de apresentar o sucessor de Funeral, disco-milagre louvado de Vila Nova de Poiares a Saturno e prazer assumido de figuras como Björk e David Bowie, mas «No Cars Go» é também um aviso que diz: «Nós, os Arcade Fire, somos aquilo que somos mas também o que já fomos». Como que dando a entender que é, em certa medida, injusto avaliar as 11 novas canções saídas da pena de Win Butler e comparsas unicamente em função do impacto que Funeral teve na vida de quem viu nos seus artesãos dignos sucessores dos Pixies ou dos Joy Division – esqueçamos a música; falamos da forma como tocam o íntimo de uma geração disponível para amar.Neon Bible é o mais próximo que os Arcade Fire estiveram de se tornar uma «experiência religiosa». A banda gravou numa igreja (órgão de tubos incluído), conta com a participação de um coro militar, uma orquestra húngara e a toada, antes áspera no pormenor dentro de um quadro geral de candura, ruma a um lugar mais seguro. Há momentos de «storytelling» Springsteen («Antichrist Television Blues»), cânticos harmoniosos («Windowsill»), Inverno dentro de portas e uma vela acesa («Intervention»), tempestades de gelo («Black Mirror»). E «No Cars Go» revisitada: monumental, empolgante, antológica.Ponto assente: é um bom disco, o segundo dos Arcade Fire. Mas é um álbum incapaz de rivalizar com Funeral na forma como Funeral se tornou qualquer coisa exterior a si próprio, um depósito de ânsias e expectativas de quem o ouviu de coração nas mãos; um fundo comunitário que extravasa o inventário de instrumentos, acordes, convenções musicais e géneros estanques. Neon Bible é a réplica depois do grande terramoto – impressionante, sim, mas a apanhar toda a gente de capacete na cabeça. "

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