Praga - Sinfonia de Luz, Pedra e Poesia

10/07/06


Existe uma cidade no coração da Europa que foi sonhada, ou antes, preconizada por Libuse, uma das três filhas de Cech, um mítico guerreiro eslavo. Herdeira da região da Boémia, a princesa sediou-se com a sua tribo em Vyserhad, até que um dia, ao contemplar o rio Moldava, junto à colina de Petrin, foi-lhe revelado, através de uma aparição, que deveria fundar uma cidade cujo nome significa limiar e à qual estaria reservada “uma glória capaz de atingir as estrelas”. A princesa anunciou a nova ao seu povo, apontou para uma encosta sobre o rio e para aí se deslocou, após ter unido através do matrimónio a sua intuição à força musculosa do camponês Premysl, dando início à primeira dinastia que imperou na região, até ao século XIV.
A partir da Idade Média, essa cidade não só alcançou o brilho profetizado por Libuse, transformando-se primeiro na capital da vasta região da Boémia, como foi palco de uma vida política conturbada e plena de episódios, no mínimo, peculiares, de que resultaram revoluções ou sublevações populares utilizadoras de métodos tão diferentes quanto a defenestração (do latim “pela janela fora”) ou manifestações exemplarmente pacíficas, envolvendo milhares de populares. As primeiras implicaram que corpos de governantes contestados tivessem transposto em voo forçado janelas altaneiras de palácios (trajectórias nem sempre fatais, pois reza a história que alguns sobreviveram ao aterrarem em providenciais amontoados de estrume!) e as segundas, pelo contrário, permitiram profundas alterações no panorama político e económico do país (quase) sem derramamento de sangue.
Foi também nessa cidade – disputada por celtas e germânicos em tempos mais remotos e ocupada pelos exércitos franceses, alemães, austríacos e suecos ao longo dos últimos séculos – que viveram artistas como o compositor neo-romântico Dvórak, o poeta Rainer Maria Rilke, o escritor Kafka, autor das admiráveis mas opressivas e claustrofóbicas obras “O Processo” e “Metamorfose”, ou Milan Kundera, celebrizado por não menos perturbantes, mas mais libertinas criações literárias, de que são exemplo “A Insustentável Leveza do Ser” (adaptada também ao cinema) ou “O Livro do Riso e do Esquecimento”.
Em cada esquina dessa capital da Europa de Leste, à partida mais semelhante a Paris do que a Moscovo, existe um clube de jazz com concertos diários ou salas de espectáculos com dezenas de óperas, bailados, concertos de música clássica e peças de teatro em cartaz.
No Inverno cobre-se de neve e transforma-se no cenário de sonho para qualquer conto de fadas e na Primavera ganha um fôlego e uma luz dourada inigualáveis, convidativos ao romance e a passeios infindáveis, orquestrados por músicos de rua. Citando prazeres mais prosaicos, é também esse o lugar no mundo onde se bebe mais cerveja e, supomos nós a julgar pelos cardápios dos restaurantes, se come mais carne de porco (assada, em bife, picada, em tarte e pudins...) – valha-nos a recente descoberta das cozinhas italiana e oriental!
Obviamente é de Praga, a capital da República Checa, que falamos. No entanto, e apesar de todas estas particularidades, a cidade é sobretudo celebrada pela beleza e pelo perfeito estado de conservação dos seus edifícios, de uma riqueza arquitectónica assombrosa. Reúnem estilos tão diversos quanto o barroco, o renascentista, a art déco, a arte nova, o cubismo e o funcionalismo, passando ainda por alguns exemplares, mais raros, do românico e do gótico.
Visitar Praga para apreciar o seu castelo, as igrejas, os museus e as salas de espectáculos é motivo mais do que legítimo – até porque foi classificada pela UNESCO como Património Mundial. Reflectindo esses edifícios a sua trajectória política, social e cultural, porque não tentar desvendar os segredos que guardam do passado e assim sorver um pouco mais da alma primitiva da que é considerada por muitos como a “mais bela cidade do mundo”? Perante as avalanches de turistas que inundam as estreitas ruelas medievais de Praga, esta poderá ser a forma de melhor sentir e interiorizar o pulsar poético que lhe é peculiar.
Depois é só deixar-se embalar pela música: nas ruas, nas pontes, nas salas de concertos e nos clubes de jazz, guardando o ritmo para o passeio do dia seguinte.


In Revista Rotas e Destinos

O Adeus à Selecção

Se por algum motivo aprendi a adorar o futebol, em grande parte isso se deve a Luis Figo ... o meu jogador português preferido de sempre. Com ele aprendi que o futebol é pura arte, pois cada drible, cada golo e cada assistência dele são dignos de um Picasso como de pintura se tratasse.
Sem dúvia que Figo é um grande artista da bola, e sem dúvida o melhor de sempre do futebol português. È sempre um orgulho afirmar que sou português como o Figo ... e por isso não posso deixar de sentir já uma certa nostalgia depois de o próprio ter dito que ia deixar de vestir a camisola das quinas. Como todos os artistas, cada um tem o seu tempo, só é pena que alguns não tenham a capacidade de rejuvenescer sempre que necessário, porque se há jogadores que vão fazer falta á minha selecção, Figo está no topo da lista.
Por isso não posso deixar de prestar a minha pequena homenagem ao "grande artista" de Portugal, Luis Figo. A ti o meu muito obrigado pela forma brilhante com que sempre te "bateste" dentro de campo, e por sempre teres honrado a camisola da selecção. Nunca serás esquecido. Obrigado capitão!!!